Música?

Sim. E da melhor!

Em 2002, em Curitiba, produzi um show do pouco conhecido DUOFEL. É chato falar pouco conhecido. Parece falta de respeito com os caras, mas, infelizmente, é assim mesmo. Aqui cabe uma explicação paradoxal. Uma grande minoria se interessa por música bem feita e originalmente executada.

Os dois do tal DUOFEL, cujo nome vem de DUO + as iniciais do Fernando Melo e do Luiz Bueno, são músicos de verdade. Porque digo isso? Porque não carregam a frescura, a pequenez, dos que se acham estrelas.

O show foi feito no Original Café. Lastro da cena musical na capital paranaense, que infelizmente fechou as portas. E olha que eram AS portas. Você passava por uma entrada com duas delas, andava uns três metros e cruzava mais uma dupla de portas. Era para impedir que o deleite musical misturado com a fúria da fumaça e do álcool saíssem do ambiente. (Esse parêntese é merecido. Num show que produzi com o guitarrista Nuno Mindelis e com o baterista Endrigo Bettega, o som passou pelas portas quando os dois tocaram Hey Joe, do Jimmi Hendrix. Assim como a quebradeira vazou para a calçada, a polícia militar vazou para dentro do boteco. Era a última mesmo. O show já ia acabar. Pirraça).

Deixa eu falar sobre o ambiente. Mesas e cadeiras de madeira escura. Paredes com tijolos aparentes. Retratos dos grandes nomes do jazz e do cinema. Todos em preto e branco. Brigitte Bardot, Ava Gardner, os Davis que não eram parentes, Bette e Miles. Eu disse, tudo em P & B. Eram as mesmas pessoas que apareciam nos filmes antigos reprisados em uma TV de 20 polegadas. O televisor ficava posicionado acima da janela de pedidos da cozinha e ao lado de um imenso balcão em forma de semicírculo. Típico de bares gringos. Era uma companhia aquela telinha. Pelo menos ninguém fazia terapia com as belas do balcão, Luciana e Marcela.

Nesse balcão, eu, Fernando e Luiz tomamos umas doses depois do espetáculo - que foi transmitido ao vivo pela saudosa Rádio Educativa FM. O programa tinha a participação da musa da televisão paranaense, Cláudia Vicentin, do técnico da emissora, Lampadinha e, claro, do Arthur, dono do bar. Um visionário da noite.

Era uma hora de show com direito a barulho de gelo no copo, de garrafa e burburinho da platéia. Quantas vezes ouvi pessoas me procurando no boteco dizendo que tiraram o pijama e foram para o Original? Varias. Muitos relacionamentos devem ter acabado com aqueles programas das onze da noite que tinham uma hora de duração, porém, só acabavam lá pelas três, quatro da madrugada. Mas eles, os relacionamentos, se renovavam. Alguns começavam ali. E eu trabalhando.

Bom, pelo menos a função era, ora com o DUOFEL, ora com outras atrações, como a Alaíde Costa. Essa tem uma história que só conto pra quem se interessar.

Vou postar um vídeo aqui para vocês conhecerem o DUO. É uma apresentação com a Orquestra Sinfônica da USP. No final, vejam o que eles fazem com Eleonor Rigby, dos Beatles. Violão de 12 cordas, de seis que se multiplicam por cem. Percussão em mais de uma dúzia de cordas. O talento sempre brinca. Divirtam-se.