segunda-feira, 31 de março de 2008

Que graça tem?

A Graça Vasques* é um pára-raio de histórias.

Outro dia, pegou um ônibus no bairro Abraão, onde mora, para ir ao Parque de Coqueiros - tudo na região continental de Florianópolis. No balanço do latão - onde o respeito ao passageiro é mínimo - o ouvido de Dona Graça ia e vinha para perto de duas senhoras que conversavam. Como o papo não era do tipo manezês fluente, dava para uma gaúcha de Porto Alegre entender.

Pois bem. Uma das mulheres perguntou: - E sua filha, já está andando de ônibus?

A interrogação se transformou em milhares de questionamentos no equipamento pensante de Dona Graça, que já quis chamar uma equipe de TV para gravar o que viesse pela frente.

A outra interlocutora respondeu: - Ih!! Você nem sabe. Tá assustada a coitadinha!!

Pronto! Bastou! Se as duas não abrissem o jogo seriam alvo de uma praga avassaladora.

Abriram. E a Graça deu graças à Deus.

Ocorreu o seguinte. A filha da mulher entrou num ônibus e ficou em pé agarrada ao suporte de ferro (puta merda). Um adolescente entrou em seguida e esbarrou nela. Mas esbarrou com vontade (sabe como?). O moleque sentou e, na seqüência, a garota fez o mesmo.

Ao sentar, olhou para o lado e viu que ele estava com o relógio dela. Pêdacara, achando que o encontrão fora um subterfúrgio para roubá-la, a menina pediu que ele o devolvesse imediatamente. Intimidou o guri dizendo que se ele não entregasse iria apanhar dela e de todos os que estavam no latão. O demenor, assustado, não disse um ai siquer. Num primeiro momento, tentou evitar, mas, diante do olhar enfurecido da garota e do zum zum zum no coletivo, cedeu.

No ponto seguinte, ele desceu. Com ele, desceram filas de xingamentos. Da calçada, urrava: - Eu vou te encontrar ainda! Cevaivê!

A viagem seguiu e, o chegar em casa, a garota deu de cara com a mãe, que disse: - Minha filha querida, pensei que você fosse se atrasar. ESQUECEU TEU RELÓGIO EM CASA.

Preciso concluir? Basta saber que ela está gastando vários relógios em corridas de táxi.

Ah! Com o tempo perdido no início da história a Dona Graça, que iria descer no Parque, teve que ir até o centro. Atravessou a ponte. Quem manda ser pára-raio.

* Graça Vasques é jornalista.
Tive o trabalho de falar ao telefone com a mãe dela, a Dona Deily, que mora na capital gaúcha. Descobri porque ela tem esse jeito pára-raio de ser. A mãe contou que a filha nasceu tão rapidamente que o médico atendeu em casa mesmo. Nada de ir à maternidade. Ao ganhar o mundo, naquele comecinho de vida, a bebê Graça teria olhado para o obstetra com cara de quem pergunta: que lugar é esse? Quem é você? Quando chegou? Porque está aqui e como vim parar no seu colo? Era o primeiro lead da Graça.
Antes que eu esqueça, a Dona Deily perguntou se aqui em Floripa ela não é "toda rapidinha." Ô! Se é Dona Deily. Ô! Se é.

Um comentário:

Marco Antonio Zanfra disse...

Gostei da nova cara do blog. Mais "clean", mais agradável aos olhos. E, para coadunar, uma história divertida. Ou melhor, uma graça de história.