sexta-feira, 23 de abril de 2010

Você sabe com quem está falando?

A qualidade do áudio e do vídeo deixam a desejar.....mas o que vale é o conteúdo.



O promotor de justiça Affonso Ghizzo Neto* publicou um artigo hoje no Diario Catarinense a respeito do assunto. Aqui está:

Artigo - Sabe com quem está falando?

Carteiraços, uso particular de veículos públicos, engavetamento do projeto Ficha Limpa, aprovação da Lei da Mordaça (Lei Maluf), dentre outros acontecimentos, tudo isso pode ser compreendido a partir de uma leitura histórica da cultura brasileira e de seus objetos socioculturais. O que ocorreu nos tempos da colonização brasileira, seja no proceder autobeneficente dos funcionários públicos, seja na autodeterminação dos caudilhos, foi o flagrante predomínio e a disseminação da ideia da relevância dos interesses privados em comparação com os objetivos comuns públicos. A organização de dominação patrimonial já vinha desenvolvida da Coroa, sendo implementada na Colônia a partir de objetivos eticamente pessoais, individualistas, privativos e casuísticos, todos fermentados pela institucionalização da impunidade, quadro dramático que possibilitou o crescimento e a disseminação desenfreada de uma ética predatória.

Neste contexto, vale destacar uma abordagem à expressão “você sabe com quem está falando?”, consagrada pelo antropólogo Roberto DaMatta como representação maior do caráter hierárquico dos cidadãos brasileiros, em sentido oposto ao princípio da igualdade e frontalmente inverso ao efetivo exercício da democracia. Ou, como assevera DaMatta: “(...) avesso à crítica honesta, ao estudo sério e à impessoalidade das regras universais, sempre distorcidas em nome de uma relação pessoal importante.” Enfim, os chamados “carteiraços”, a utilização de veículos públicos para fins particulares, a repulsa de diversas lideranças políticas à aprovação do projeto de lei Ficha Limpa, dentre outros atentados contra a democracia, são consequências do caráter individualista, hierárquico, autoritário e avesso à impessoalidade da cultura patrimonial brasileira, que favorece condições perfeitas à reprodução de um ciclo vicioso e persistente.


* Promotor de Justiça, autor do projeto “O que você tem a ver com a corrupção?"

2 comentários:

Antonio Feijó disse...

Coronelismo total!!
Que péssimo exemplo ao judiciário.
O TJ-SC deve estar envergonhado com tal atitude.

Anônimo disse...

DESCARADAAAA!!!